Exclusivo: entrevista com pastor Osi da Silveira (in-memorian), filho do fundador da IAP


Em 2009, no último ano do Seminário Interno de Teologia (2008-2009), entrevistei em São Paulo-SP, por ocasião de escrever minha monografia sobre a “história da pregação na Igreja Adventista da Promessa”, que depois viria a mudar, o pastor Osi da Silveira (falecido em 2011), dos homens, o caçula do fundador da IAP, pr. João Augusto da Silveira. No dia, estava presente sua esposa, dsa. Clarice (falecida em 2015). Na casa do saudoso casal, numa tarde, em novembro de 2009. 

Depois de um tempo sem localizar a entrevista, que estava apenas digitada no papel, reencontrei ela em setembro de 2018, por isso, resolvi por ocasião dos 87 anos da IAP, publica-la, como forma de homenagear os pastores pioneiros e a amada denominação cristã. 
Leia a entrevista:

Andrei Sampaio Soares: Conte sobre o início de tudo.
Pr. Osi: “Eu me considero o primeiro crente adventista da Promessa. Porque quando o meu pai foi batizado [no Espírito Santo], eu estava do lado dele. Depois, que a minha mãe foi saber. Ela estava conversando com uma vizinha, e quando chegou em casa, o pr. João Augusto da Silveira avisou a ela que havia sido batizado.
O Pr. João Augusto da Silveira, saiu dos adventistas do Sétimo Dia em 1928, e só foi batizado no Espírito Santo em 24 de janeiro de 1932. Meu pai, não tinha nenhuma intenção de fundar igreja, pois ele tinha outro meio de vida. A alegria que tomou conta de seu coração a partir daquela data, fez com que ele dividisse esse sentimento procurando seus amigos, a fim de, contar-lhes sua experiência. Seu entusiasmo era tão grande, que ele só voltou 8 meses depois.
A pregação do Evangelho pela IAP, não começou nos púlpitos, mas foi dessa forma que começaram a ouvir a Palavra. E se reuniram em grupos para estudar doutrina (batismo no Espírito Santo). Assim foi o início da IAP.
A notícia do batismo no Espírito Santo correu pelo Brasil, e pessoas que foram batizadas pelo meu pai na Igreja Adventista, e outros, ficaram curiosos sobre o fato que havia acontecido com meu pai. Aonde meu pai ia, especialmente nestes primeiros 9, 10 meses, ia ensinando como se comportar em vigílias, sobre o batismo no Espírito Santo e como buscar esses dons espirituais. Para mim, a pregação do Evangelho dentro da Igreja Adventista da Promessa começa aqui.
Aí começaram, as instruções, discussões, pessoas que queriam aprender, outras que queriam combater. E várias situações esquisitas. Chamaram a igreja de “mal de sete dias”, pois com sete dias muitas crianças morriam, mas quando o obra é de Deus, o homem não pode atrapalhar e nem impedir.
            Meu pai nunca pensou em ser dono de igreja, ele queria apenas passar sua experiência para o mundo, até onde pudesse alcançar. E toda minha família teve este mesmo sentimento, este mesmo espírito para com a obra de Deus.

ASS: Falando agora especificamente da pregação da Palavra, ela sempre teve importância naquela época?
Pr. Osi: “Sim, especialmente nas visitas, nas casas. Meu pai era um homem destemido, aonde houvesse uma pessoa, poderia ser lá no sertão, ele ia com muito amor.”

ASS: Agora sobre homilética [a arte de fazer e expor sermões], até que ponto ela é uma auxiliadora?
Pr. Osi: “Olha, a homilética tem seu valor. Por exemplo: o nosso corpo tem cabeça, tronco e membros. A homilética deixa o sermão mais claro. Ela ajuda o pregador a expor melhor o assunto que deseja comunicar. Mas isso não é uma regra. Eu admiro muito a pregação expositiva, pois você tem conhecimento melhor de um ponto de vista”.

ASS: Os pregadores do início da igreja, a maioria de suas mensagens eram mensagens expositivas?
Pr. Osi: “Eram expositivas. O pr. Godofredo tinha uma tendência mais homilética. Ele era muito bom nisso. Era pernambucano e veio dos adventistas”.

ASS: Nos dias de hoje, vemos uma certa inquietação para se ouvir uma pregação, naquela época, havia mais interesse?
Pr. Osi: “Acho que há alguma diferença, já que aquele assunto era novo (batismo no Espírito Santo), então, causava certa expectativa, prendia a atenção. Pode ser isso que provocava, uma força de vontade de ouvir as pregações.
            A doutrina Adventista da Promessa, tem um campo muito vasto para se explorar, portanto, a escolha do assunto para a pregação, o tema, a exposição do pregador, a sua comunicação, são dons que a pessoa, muitas vezes, deve aperfeiçoar.
            Mas eu acho o seguinte, se tratando de tempo de pregação, no meu ponto de vista, as pregações longas são prejudicadas, cansam o auditório. Está provado, que uma pessoa ouve muito bem, meia hora, 45 minutos, chama bastante a atenção das pessoas. Por melhor que seja a pregação, ser passar de uma, uma hora e meia, cansa! O apóstolo Paulo certa ocasião, pregando, o camarada caiu da janela, quase morre. Se você alongar muito a pregação, está sujeito a repetir muita coisa, e cansando o auditório. A mensagem, pode ser resumida e possuir um conteúdo, forte”.

ASS: Nos dias de hoje, nós temos no culto muitos louvores, o senhor acha que isso é prejudicial para pregação?
Pr. Osi: “Tudo que é demais, é pedante. É como comer doce. É bom, mas coma demais! O louvor é importante, é gostoso, mas na porção certa. Os hinos eram os do Brado de Júbilo, um no início, outro no meio, e um no final. Depois, apareceram os corinhos. Eu gosto, mexem com a gente. Mas, tem que ser com equilíbrio, se não, o pregador fica sem tempo para a pregação. Não se dispensa nada, nem música e nem pregação, o que é preciso é apenas administração”.

ASS: Naquela época, as pregações giravam mais em torno de qual assunto?
Pr. Osi: “No início, se falava muito no batismo no Espírito Santo, mortalidade da alma, nos Dez Mandamentos (dsa. Clarisse ressaltou este ensinamento), abstinência... era mais doutrina. As Lições Bíblicas, eram mais doutrinárias”.

ASS: Tem algum pregador que o senhor se inspirou?
Pr. Osi: “Bom, eu nunca me reconheci como um bom pregador. Eu fui mais do trabalho evangelístico. Não era muito a minha área. Vou citar um de fora. (Mas, gostei muito do pr. Godofredo pr. Cassiano. Pr. Miguel, também era um bom pregador). Mas como pregador, o que eu gostei era o pr. José Borges, da Igreja Presbiteriana. Ele pregava muito bem, e a pregação não passava de vinte minutos. Na parte da manhã, no rádio, ele tinha cinco minutos para pregar, ele dava uma mensagem extraordinária, em pouco tempo”.

ASS: Falam que o pr. Manoel Santana Lopes, era muito avivalista. Me fale um pouco da sua pregação.
Pr. Osi: “O pr. Santana era um homem que nós admirávamos muito, porque ele vivia no Espírito. Por isso que, consideramo-lo, um pregador avivalista e muito espiritual. E ele mostrou isso, o  Norte, o trabalho praticamente foi levantado por ele”.
ASS: E hoje, o senhor arriscaria dizer sobre grandes pregadores? O que precisa melhorar?
Pr. Osi: “Eu gosto muito do pr. Genilson. Das pregações, da sua comunicação. Gosto também, do pr. José Lima. Gosto também, do pr. Adelmilson. Pode haver mais também, mas na atualidade eu destacaria estes três. Mas gosto de alguns, como: pr. Rivaldo, que fala de doutrina e pela sua capacidade de comunicação.
Da juventude, o missionário Eleilton [hoje pastor]. Admiro a capacidade que ele tem de memorizar. Ele tem grandes possibilidades de ser um dos maiores pregadores da igreja.
Acho que temos uma juventude de pastores iniciando. (dsa. Clarice Vieria - foto ao lado - opina: eu admiro os seminaristas que estiveram lá na igreja de Vila Maria: O Mateus, o Rafael    Scatena, o  Michel [hoje pastores]. Eles fizeram pregações muito boas lá. Eles pregaram ‘direitinho’ e não foi muito comprida.
Eu admiro também, o pr. Antônio, ele tem grande facilidade.
Temos que ter cuidado com muitas perguntas para o auditório, para não deixar inibidas as pessoas. Outro cuidado, é falar muito rápido. A pregação para mim, é praticamente uma conversa, então, deve ter as devidas pausas”.

ASS: Como o senhor definiria a pregação?
Pr. Osi: “Eu acho que existe a pregação técnica e a pregação espiritual. Quando o Espírito Santo toca realmente no pregador, você sente um sabor diferente. Isso é quase inexplicável (...). É assim que vejo a pregação!”. 

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