Cuidado

Na frente do prédio onde congrego e trabalho com minha comunidade cristã, há um pequeno e simples jardim. Tive o prazer de plantar algumas delas e ás vezes, quando me lembro, rego as mesmas. Mas quando não, vejo que elas sofrem com o colar do sol escaldante da Amazônia.
Quando jogo a água nelas, ficam com a aparência mais “alegre”. Suas folhas se despertam. Enfim, a água lhe traz um novo vigor, uma nova aparência e lhes preparam para enfrentar a quentura amazônica.
No dia que não as molho, de manhã percebo que elas ficam revigoradas. Mesmo sem meu falho cuidado, o cuidado de Deus não lhes falta. E então, o “Deus Jardineiro” entra em cena e cuida de Sua criação. Seu orvalho é sinal de que não nos entregou a própria sorte, antes continua em plena atuação.
Jesus, Aquele que entrou em Sua própria criação enviado por Seu Pai (João 5.23) disse que Deus cuida de nós. Disse que não devemos ficar desesperados, mas confiantes no cuidado do Pai.
Na Bíblia, a Palavra de Deus, o Senhor da criação fala do cuidado desse Pai: Observai as aves do céu: não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros; contudo, vosso Pai celeste as sustenta. Porventura, não valeis vós muito mais do que as aves?” (Mateus 6.26). A lógica de Jesus é: se o Pai tem cuidado pelas aves do céu será que não cuidará de nós? Será que não teremos nossa comida?
Depois o Senhor que estava no princípio da criação de todas as coisas (João 1.1), prossegue:
 E por que andais ansiosos quanto ao vestuário? Considerai como crescem os lírios do campo: eles não trabalham, nem fiam. Eu, contudo, vos afirmo que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós outros, homens de pequena fé?” (Mateus 6.28-30).
Paramos para refletir no que disse Jesus: o Pai cuida das plantas, inclusive as que estão na frente do prédio de minha comunidade, será que não nos vestirá? Será que se Ele cuida dessas coisas que não prestamos atenção, não cuidará de nós, não nos vestirá?
Essas palavras de Jesus nos trazem a memória outras palavras, agora as de um salmista: Inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão que penosamente granjeastes; aos seus amados ele o dá enquanto dormem. (Salmo 127.2).
Ao lermos os textos, os do Evangelho de Mateus e do Salmo, talvez pensamos: “será que eles estimulam a preguiça?” É claro que não! O que Jesus e o salmista estão dizendo, é que o desespero e a ansiedade não são boas ocupadoras de mente. Igualmente nos prejudicam, a tentativa de controlar a nossa vida, excluindo assim Deus do cotidiano.
O escritor Max Lucado comenta interessantemente esse texto: “A aflição não vai encher a barriga de um pássaro com comida nem uma pétala de flor com cores. Pássaros e flores parecem estar bem, e não tomam antiácidos. (...) A preocupação não leva a nada.”[1]. E complementa: “Jesus não condenou a preocupação legítima com as responsabilidades mas a mentalidade contínua que dispensa a presença de Deus.”[2]
Isso faz sentido, antes de Jesus dizer essas palavras, ele fala que não é possível servir a Deus ou as riquezas, deve-se escolher um ou outro (Mateus 6.24). E o salmista, fala que se Deus não vigiar e edificar, seguranças e pedreiros terão seus serviços perdidos (Salmo 127.1).
 O que aprendi com o jardim em frente ao prédio da comunidade cristã, foi que mesmo ante nosso descuido Deus está no controle das coisas. O orvalho foi para mim, um sinal do sagrado. Um sinal do cuidado de Deus! 
 NA TRINDADE, Andrei C. S. Soares.


[1] Lucado, Max. Sem Medo de Viver. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2009, p.54.
[2] Idem, p.55.

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