Uma onda que vem da Europa e dos EUA, a igreja
emergente propaga um cristianismo mais “livre”
Imagine você indo para o templo, onde costuma se reunir como igreja com
seus irmãos. É sábado, dia do Senhor (Ex 20.8), e pela manhã, tradicionalmente
você vai para a Escola Bíblica. Ao passar em uma rua próxima à igreja, há uma
lanchonete aberta onde se encontram uns irmãos que saíram da igreja da qual você
participa, e eles estão nesta reunião mais “descolada”.
Parece uma cena “bizarra”, não parece? Num restaurante sábado pela
manhã, comprando e chamando isso de cristianismo? Uma imagem que está se
tornando comum para cristãos da Europa e dos Estados Unidos. Esse é um dos
aspectos da igreja emergente. Essa
incerteza do que seus membros são ou professam, está ligada ao tempo em que
vivemos: a pós-modernidade. Esta é uma época cuja filosofia vigente não prega
um mundo de certezas, de absolutos. Algumas frases nos ajudam a entender nosso
tempo: “tudo é relativo”, “cada um no seu quadrado” e “cada um com sua
verdade”. Tempo em que as coisas
materiais são tudo e Deus está em segundo plano ou até excluído da mente
pós-moderna.
Esse movimento emergente não começou com aspectos teológicos, mas
sociais, como nos diz o teólogo e pastor Mauro Meister, estudioso do assunto: “Geograficamente
o movimento teve origem no Reino Unido [entre os anos 80 e 90], ligado a uma
cultura fundamentada na experiência (...). Essa cultura, na verdade uma
subcultura, é caracterizada pela migração dos jovens suburbanos para o centro
das cidades durante os fins de semana, buscando um significado tribal para a
existência”(1).
Dúvida quanto à Bíblia
A partir desta cultura, dessa visão mais “solta”, provavelmente nasce no
coração de alguns cristãos a ideia de um cristianismo “livre”, sem limites
institucionais e doutrinários, sem líderes, enfim, sem um corpo organizacional
que foi instituído para o bem da igreja (já pensou se não houvesse a
instituição dos diáconos, como organizar a distribuição às viúvas? At 6.1-7).
A igreja emergente é
caracterizada pela falta de certeza quanto ao que crê. Os líderes ou pastores são
vistos apenas como companheiros de jornada e não como guias que levam, com o
auxílio do Espírito Santo, as ovelhas ao Pastor das nossas almas! Dá-se mais
importância à jornada e não ao fim, mais ao mistério do que conhecer a verdade,
como disse Jesus (Jo 14.6).
Há dúvida em relação a sua crença sobre a Bíblia como a Palavra de Deus:
inerrante, infalível, enfim, como um ponto de confiança para que o homem siga a
verdade de Deus. Pelo Espírito, o apóstolo Pedro nos diz que a Escritura é
digna de confiança, pois foi inspirada por Deus! (2 Pe 1.21).
Eles dizem que todos os elementos da doutrina que conhecemos, por
exemplo, Bíblia, Palavra de Deus; Trindade; criação, queda e salvação pela fé
em Jesus, são formulações da Idade Moderna, entre os séculos XVI e XVIII, no
qual se deu mais valor para o que é racional. Porém, muito antes da modernidade,
vemos muitos cristãos estudiosos com
formulações racionais que não são contrárias à fé, crendo na veracidade da
Bíblia: Clemente de Roma (que viveu entre os anos 30 e 100 d.C), Policarpo (65 a 155 d.C.) e Irineu (120 a 202 d.C.)” (2).
Eles discordam da ortodoxia tradicional (doutrina correta), afirmando
que Jesus queria pregar apenas um estilo de vida e não verdades racionais. Crêem
que o comportamento correto (ortopraxia) não vem de uma crença correta, mas
devemos nos lembrar do que Paulo disse a Timóteo: “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina”
(1 Tm 4.16a).
Mensagens são espécie de conversa
No que diz respeito à pregação e ao seu culto, na igreja emergente não há apoio para
a pregação como a conhecemos. A pregação tradicional é antiquada. Para a igreja
emergente deve haver um modelo mais transmissível da verdade. Um dos principais
propagadores do movimento emergente (Dan Kimball) diz que, na igreja moderna, o
pregador apenas passa informações para as pessoas, que escutam, passivamente.
Já a proposta emergente é de que todas as mensagens sejam uma espécie de
conversa, de partilha (3).
Apesar de condenar a superficialidade na pregação
(Meister, 2006), ele afirma (Dan Kimball) que se devem acrescentar coisas à
mensagem bíblica, como se as verdades do texto não fossem suficientes. O
pregador jamais deve se colocar como aquele que proclama as verdades para as
pessoas mudarem de atitude, pois é mais uma conversa, um divã.
Lembremos que, na Bíblia, temos exemplos no Antigo e Novo
Testamento de pregações (Ne 8.8; 1 Tm 4.13), que não eram tão conversativas
assim. Mas esses homens explanavam a verdade do texto a fim de transformarem as
pessoas, no poder do Espírito Santo.
Seus cultos proclamam a participação de todos, o que é
muito bom e faz parte da igreja de todos os séculos. Já que uma das ênfases do
movimento emergente é a experiência, alguns elementos sensoriais são colocados
nos cultos: “existem igrejas que se denominam emergentes simplesmente porque
adotam comportamentos heterodoxos, como velas nos cultos, cântico de músicas
não-evangélicas e bate-papos sobre as coisas de Deus, no lugar das tradicionais
pregações.” (4).
Sobre a forma de fazer missões,
ou seu aspecto “missonal” (nome usado
pelo movimento), há uma chamada a alcançar os perdidos. O propósito é levar o
Reino àqueles que não têm acesso. O problema é que o movimento emergente se
perde por divulgar um evangelho de caráter mais social, não proclamativo. Seu
interesse é apenas que as pessoas entrem no Reino e isso não implica uma
pregação mais radical, como fez Jesus e João Batista: “Arrependei-vos,
porque é chegado o Reino dos céus.”
(Mt 3.2; 4.17).
A igreja emergente serve para
nos alertar sobre aspectos em que podemos estar acomodados. Que possamos viver
mais a palavra do que as crenças humanas que recebemos. Que valorizemos mais as
pessoas do que a “máquina institucional”. Que nosso foco sejam os não crentes e
todos aqueles que saíram do caminho de Cristo. Que possamos prosseguir em
conhecer o Senhor (Os 6.3)!
NA TRINDADE,
Andrei C. S. Soares
(Publicado na Revista IAP EM AÇÃO, revista institucional da Igreja
Adventista da Promessa).
1 - MEISTER, Mauro. Apostila: Igreja Emergente, a Igreja do Pós-modernismo? Uma visão provisória.
4 - Ricardo, Sulamita. Mudança
de maré. http://www.cristianismohoje.com.br/interna.php?id_conteudo=627&subcanal=31
Acesso 13/09/11.
http://www.mackenzie.br/igreja_emergente.html.
p.101. Acessado em 13/09/11.
2 -
DEYOUNG, Kevin. Não quero um pastor bacana: e outras razões para não aderir à igreja
emergente. São Paulo: Mundo Cristão, 2011, p.89.
3 -Kimball in
MEISTER, Mauro. Apostila: Igreja
Emergente, a Igreja do Pós-modernismo? Uma visão provisória.
http://www.mackenzie.br/igreja_emergente.html.p.110. Acessado em 13/09/11. Adaptado.
Comentários
Postar um comentário