Desde que encontrei na Bíblia o versículo sobre duas tristezas, sempre que me vem à tona este assunto, ou quando paira em mim tal sentimento (quase que constante), nunca mais fui o mesmo. O trecho da Santa Escritura diz assim: Pois a tristeza segundo a vontade de Deus produz o arrependimento que conduz à salvação, o qual não traz remorso; mas a tristeza do mundo traz a morte. (2 Co 7.10). A palavra grega para tristeza é lupe e dentre seus muitos significados traz a ideia de uma angústia de pessoas enlutadas (1).
A diferença básica é que existe a "tristeza de Deus". Uma espécie de “tristeza salvadora”. Quem sofre este sentimento tem um coração tocado pela graça transformadora do Espírito Santo. A tristeza de Deus produz arrependimento para a salvação, ou seja, a tristeza segundo a vontade de Deus potencializa em nós a metanoia (em grego é arrependimento) para que andemos sempre no caminho da liberdade de Deus. O arrependimento proporcionado pela "tristeza de Deus" produz mudança verdadeira e não remorso ou emocionalismo.
Depois o texto diz “mas a tristeza do mundo traz a morte”. Os sentimentos, embora sejam os mesmos (tristeza), e as palavras no grego também, todavia a maneira como lidar com a tristeza muda quando se olha na dimensão do mundo. Outra característica de quem tem a “tristeza destruidora” é a não mudança de rumo, de direção, de mentalidade. O desejo por mudança vira apenas um sentimento, um sensor para a alma se “autoflagelar”, entretanto o interior não muda verdadeiramente o que leva a pessoa a apenas ter remorso.
Toda essa volta é para dizer que em muitos casos da minha vida, já vivi acreditando, e era mesmo, que meu coração fora inundado pela "tristeza salvadora". Pecava, errava e “batia” na mente aquele desespero de alma, aquela sensação de mal estar diante de Deus e aquele sentimento de constrangimento diante de seu povo. Porém, em alguns momentos, percebo que minhas tristezas são por conta de que não consigo concretizar meus projetos pecaminosos. Chego até chorar, não sei se de raiva por não ter conseguido executá-los ou porque percebo o quão afastado posso ficar do Pai sem ter assim descanso para alma.
E essa dor de não saber se minha tristeza é por não conseguir praticar o pecado ou por ter sido frustrado nos meus planos, é que me intriga. O coração de fato é “terra que ninguém conhece”. Por vezes é terreno inexplorado. Como disse o profeta é enganoso, trapaceiro, incurável (Jr 17.9). Aí, mais um tipo de tristeza vem à tona, ou seria dúvida?: “qual será a tristeza que sinto?”. Pelo jeito temos uma certeza, se for à "tristeza salvadora" minhas obras mudarão. Se for a "tristeza destruidora" minha lamentação será apenas um choro de momento que não passa de lágrimas externas que rolam no rosto.
Mesmo diante de minha luta contra o Espírito “porque a carne luta contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne. Eles se opõem um ao outro, de modo que não conseguis fazer o que quereis” (Galátas 5.17), desejo pedir para Deus que me socorra diante de meus desejos errados e passos por vezes longe de sua presença. Queria verdadeiramente ter um coração mais piedoso, mas por hora, como diria uma amiga minha “o que se tem é isso”. Então, prefiro mil vezes abrir o coração para Deus e falar de minha falsidade e desejos contra a sua vontade. Quem sabe, com essa abertura de alma, uma hora ou outra acabamos mudando de rumo convencidos por Sua "tristeza salvadora".
NA TRINDADE,
Andrei C. S. Soares.
(1) The Word. Análise nesta passagem.
Comentários
Postar um comentário