A Reforma começa em mim

O Deus que usou Moisés e Lutero quer usar você

Desejo compartilhar com vocês a letra da canção “eu preciso saber” do grupo Logos. A canção resume o início da vida de Moisés e o propósito para o qual nasceu (c.f. Êx 1-2). A canção diz assim: “Houve um dia que a mãe escondeu, um tesouro que de Deus recebeu. Foi seu filho precioso que nasceu exatamente quando o rei o procurava matar. (...) A história diz que o filho cresceu. Pois das águas o Senhor o tirou: Pra fazê-lo muito forte, pra mudar de um povo a sorte e torná-lo abençoado e feliz (...)”.
            Bom, a vida de Moisés não foi fácil desde o começo. Sua infância (2.1-10), depois, um assassinato cometido (2.11-12) e sua fuga para Midiã (2.13-15). Apesar de sua boa criação, e de todos esses problemas ocorridos ao longo de sua história, ele poderia ter pensado em que não pudesse ser usado para uma grande obra, porém, pela Palavra de Deus (Êx 3.13-14), vemos verdades na vida de Moisés que são verdades para a nossa vida também.
A história de Moises é uma aventura. Ela nos mostra que Deus pode se manifestar no cotidiano da nossa vida (Êx 3.1-6). Nestes vs. 1-6, percebemos que Deus aparece a Moisés quando este está apascentando suas ovelhas. Ele está fazendo nada mais do que seu trabalho normal de cada dia, afinal segundo Atos 7.30: Decorridos quarenta anos, apareceu-lhe um anjo, por entre as chamas de uma sarça que ardia. Ou seja, Moisés já tinha provavelmente 80 anos, visto que quando ele morava no Egito quando completou quarenta anos, veio-lhe a ideia de visitar seus irmãos, os filhos de Israel (At 7.23). Então é só calcularmos: 40 de Egito e mais 40 de Midiã, 80 anos, e é nesse tempo de idade que o Senhor aparece para ele no monte de Deus, a Horebe (Êx 3.1).   Este monte Horebe é o mesmo Monte Sinai (Êx 3.12), onde Deus lhe revelaria mais tarde a Lei, os Dez Mandamentos¹.
            O anjo do SENHOR aparece de repente em uma sarça (Êx 3.2). O próprio Deus estava ali para falar com seu servo. E o elemento usado por Deus é o fogo (Hb 12.29). Porém ao avistar tal cena, Moisés percebeu que o fogo não queimava a sarça. Essa sarça era um “arbusto insignificante”². Veja que coisa diferente: um fogo pegando em uma planta sem consumi-la, com certeza, Moisés já havia visto várias daquelas plantas, porém, nunca viu fenômeno igual. Isso o leva a ir mais perto para ver porque a planta não se queimava (v.3). De repente, além do fogo que não queimava a planta, Moisés ouve a voz do Senhor.
A resposta foi imediata: “estou aqui!” (v.4). Deus então o orienta a “tirar as sandálias dos pés” (v.5), essa expressão, segundo estudiosos do assunto, é um dos “símbolos asiáticos de adoração”. E tem pelo menos dois significados. Em primeiro lugar mostra o reconhecimento de posição inferior (ou seja, de servo) diante da divindade, pois os escravos viviam descalços. Em segundo lugar, pode representar deixar de lado toda aparência para servir a quem é digno de adoração³. Por isso, Deus chama aquele lugar de “terra santa”, não que o lugar fosse sagrado em si mesmo, mas devido à presença divina ali. E tendo Deus se manifestado a ele como o Deus de seus antepassados “Abraão, Isaque e jacó” (v.6), Moises por respeito e sabendo de sua condição humana não ousa olhar para Deus que se manifestou daquela maneira.
Naquele dia “o céu estava na terra” para Moisés. Deus aparece a ele em meio a um cenário muito típico. Pense em quantas vezes ele passou por ali, viu o arbusto, porém, naquele dia algo estava diferente. É que Deus desceu para se manifestar ao seu servo Moisés. De repente Deus pode fazer isso conosco. Você dona de casa quando está lavando roupa como faz todo dia, de repente Deus pode aparecer de uma maneira toda especial. Você que vai a caminho do trabalho pode ter algum sinal de Deus que servirá para mostrar que Deus quer te usar. Pense num louvor que você ouviu, em alguém que Deus usou, ou no simples fato de você ler a palavra, e Deus despertá-lo de uma maneira toda especial. Pode acontecer com você, o que aconteceu com Lutero, que dentre as suas atividades normais foi conhecendo mais de Deus: “Parcialmente devido seu contato com o vigário geral de sua ordem, Johann von Staupitz, e da sua leitura de Agostinho, mas principalmente por meio do estudo das Escrituras, enquanto preparava suas preleções universitárias, Lutero mudou paulatinamente o seu conceito de justificação”(4).
O maior de todos os avivamentos aconteceu em uma sala, no cenáculo. Onde uns 120 crentes estavam em Jerusalém esperando o poder do alto (At 1.8). Quem sabe qualquer dia desses Deus pode reavivar você durante uma simples tarefa que você faz. Quem sabe durante um telefonema, durante um culto que às vezes achamos “normal”. Quem sabe durante uma viajem. Creiamos nas surpresas de Deus. Devemos então prestar atenção nas coisas simples, no silencio que raramente acontece ao nosso redor, pois como diz a canção “no silencio Tu estás”. Ao perceber a presença dele, abandone todos os seus títulos, toda sua aparência e se descubra diante dele. Mostre a ele você. Reverencie ele ouvindo sua voz e adorando a ele como merece. E saiba que depois deste dia você nunca mais será o mesmo. Mas, pensemos: para que Deus nos aviva?
Deus aviva pessoas para fazer algo maior através delas (Êx 3.7-10). Após aparecer de maneira estanha para Moisés, Deus começa a lhe falar qual o propósito dessa manifestação. Deus fala para Moisés que tem visto e ouvido a opressão e o clamor de seu povo. Em dicionários bíblicos, encontramos alguns significados interessantes. Ver aqui tem a ideia de “perceber, de considerar”(5), Deus estava acompanhando tudo o que seu povo passou.  Outra palavra é ouvir, em um de seus significados é perceber com interesse. Deus não apenas escutou o seu povo, mas ouviu com interesse.  Ele não apenas cumpriu uma função de “terapeuta” que apenas ouve, mas ouviu para ajudar e modificar a situação. O clamor dos israelitas passou pelos “ouvidos” de Deus e tocou seu coração. Tanto que no v.9, Deus repete que tem ouvido o clamor dos israelitas e visto como estavam sendo maltratados pelos egípcios.
O objetivo dessa manifestação do Senhor a Moisés é explicada no v.8: “Eu desci para livrá-lo dos egípcios e levá-lo daquela terra para uma terra boa e espaçosa, uma terra que dá leite e mel; o lugar do cananeu, do heteu, do amorreu, do perizeu, do heveu e do jebuseu.”. Veja que obra grande: Deus não apenas queria abençoar o indivíduo Moisés, mas através desta experiência sobrenatural, Deus desejava mudar a sorte de toda a nação que estava sendo oprimida no Egito. Deus queria muda-los de endereço. Deus queria tirar seu povo da casa dos outros e leva-los para sua casa própria! Seria um dos maiores programas de habitação da história da humanidade. Uma espécie de “minha casa, minha vida celestial”.
A terra que Deus os levaria era para Canaã. “Terra que mana leite e mel”, essa expressão quer dizer um lugar farto rico de alimentação para que seu povo se deleitasse. Mas Deus estava contando com Moises para esta grande obra.
Por isso, você é chamado por Deus para sua obra. Podemos até pensar, que como crentes já tivemos um encontro com o Senhor. Deus já nos tirou do mundo. Ele já nos tirou das trevas para sua maravilhosa luz (1Pe 2.9). Deus quer nos usar poderosamente para uma obra maior. Por isso precisamos nos encher do Espírito Santo (Ef 5.18). Precisamos buscar a face de Deus, nos humilharmos debaixo de sua poderosa mão para que a seu tempo nos exalte (1Pe 5.6). E para que Deus nos exalta? Para sermos luz para as pessoas, para levar a graça de Deus a elas (Is 61.1). É nos avivamentos, que Deus forja vocações, é quando ele se manifesta no meio de seu povo que nos chama para ocuparmos um lugar na sua obra. Foi isso que Deus fez com Lutero: “ele dedicou sua vida à reforma da Igreja e à restauração da doutrina paulina da justificação à posição central na teologia cristã”(6). Por isso, Deus quer “inflamar” você com o Espírito Santo.
Não é a toa que quando Cristo voltou ao céu ele concede dons aos homens (Ef 4.8). Todo crente tem pelo menos um dom espiritual. Qual é o seu dom? É ensinar, é curar, é presidir, é falar em línguas? Peça discernimento a Deus. Será que você não tem esquecido o dom que Deus te deu? Se for seu caso a Palavra nos diz: Por essa razão, lembro-te de que despertes o dom de Deus que há em ti (...) (2Tm 1.6). Deus tem algo para fazer através de nossa vida. Seja qual for o nosso dom, qual for nossa capacidade, ele quer nos usar para alcançarmos os perdidos. Tudo o que fazemos deve visar mostrar Cristo ao pecador. Por isso use sua música, seus textos, seus bordados, suas comidas, tudo para que seja um sinal da graça de Deus. Mas como iremos nós cumprir a nossa missão?
Às vezes pensamos que os heróis da Bíblia eram perfeitos, mas Moisés sabe de suas limitações, sabe que precisava de Deus para fazer sua vontade. Deus nos dá autoridade espiritual para fazer sua obra. (Êx 3.11-22). Mesmo diante desta verdade, vejamos alguns questionamentos de Moisés. Em primeiro lugar, Moisés não se sentia ninguém, leiamos o v. 11. O ponto central é “Quem sou eu?”. Deus lhe responde não massageando seu “ego”, não falando que ele não deveria pensar aquilo. Deus não combateu os “pensamentos negativos de Moisés”, antes lhe afirmou no v.12: “Eu serei contigo (...)”. A confirmação da presença de Deus era a chegada com o povo ao Sinai, mesmo lugar que Deus apareceu a Moisés na sarça (v.12). Em segundo lugar, Moisés não sabia no nome de quem ia. Esse é seu questionamento no v.13 (ler). Nos vs. 14-15, o Senhor lhe fala qual a maneira seu servo se apresentará.
             Deus disse a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Assim responderás aos israelitas: EU SOU me enviou a vós. (v.14). No livro “Visão além do alcance” da FUMAP, o Pr. Genesio Mendes Junior explica esta parte de maneira interessante: “Deus diz para Moisés: ‘Eu Sou’. Tal certeza não pede nenhum complemento, pois Ele é o que é, o único que pode dizer que ‘é’ sem qualquer necessidade de complementar com alguma qualidade”(7). Deus é completo, Deus se basta a si mesmo, não precisa de ninguém, é em nome desse Deus que Moises irá cumprir sua missão. Diante disso Deus lhe dá conselhos como: reunir os anciãos de Israel e contar sobre a manifestação divina e o propósito da mesma (ler os vs.16-18); ele fala da dureza de coração de Faraó (v.19-20) e de que sairão com riquezas do Egito para sustento no deserto (vs.21-22).
Moisés ainda fez uma terceira pergunta, no c.4.1, sobre que os israelitas não acreditariam nele ainda. Deus então lhe concede poderes para fazer sinais maravilhosos para o povo (4.2-10). Um último questionamento feito por Moisés, era sobre sua dificuldade de falar (v.10), e assim mesmo tendo provas de que Deus colocaria suas palavras em sua boca (vs.11-12) Moisés pediu que Deus enviasse outro (v.13), o que provocou a ira do Senhor fazendo com que Deus chamasse a Arão seu irmão para o ajuda-lo (v.14-17). Deus te chamou para fazer parte de Sua nação. Fazemos parte da igreja de Deus, do Israel espiritual (Rm 9.6). Quem sabe você se sente incapacitado? Quem sabe você não conhece Deus e nem a sua Palavra? Quem sabe a igreja não acredita que Deus te chamou? Quem sabe você não sabe o que dizer na obra de Deus. Lutero não era perfeito, tinha sua falhas. Conta-se que “Lutero quase sempre respondia a seus oponentes de modo polêmico, usando linguagem extremamente ríspida”(8). Porém, com a graça de Deus, ele foi um grande canal para obra de Deus.
Saiba, porém que você é templo do Espírito Santo (1Co 3.16). Entenda que Deus vai com você para concretizar os planos dele. Ele nos chama em seu nome, e nós somos seus representantes aqui na terra (2co 5.18). Abra a sua boca, proclame o Cristo que te salvou. A nós foi dada essa posição de responsabilidade. Para isso Deus quer nos reavivar! Afinal, quando nós que somos salvos pela graça de Cristo falamos, é “(...) como se Deus vos exortasse por nosso intermédio.” (2Co 5.20). Deus fala, mas não somente isso, ele sinaliza sua presença, como nos disse Jesus “E estes sinais acompanharão os que crerem: em meu nome expulsarão demônios, falarão novas línguas, pegarão em serpentes, e se beberem alguma coisa mortífera não lhes fará mal algum; imporão as mãos aos enfermos, e estes serão curados”. (Mc 16.17-18). Não temamos, Deus é conosco!
Moisés volta ao Egito (Êx 4.18-31), e depois de muito sofrimento e de enviar 10 pragas ao país devido à dureza de coração de Faraó (c.f. Êx 5-12.36), até libertarem o povo de Deus, e depois de quarenta anos entrarem alguns em Canaã, a terra prometida. Oremos: Senhor faz uma reforma através de mim. Começando por mim. Louvado seja o Senhor, por este dia 31 de outubro, em que comemoramos a Reforma Protestante. Deus começou uma reforma em Lutero que transformou o mundo todo. Só pode mesmo ter sido obra do Espírito!
            Voltando a canção, “eu preciso saber” que mencionei no inicio, encontramos algumas frases da vida de Moisés mais para a nossa vida, a canção ainda diz: “Se você também em Deus confiar e nas águas sua vida deixar. Crendo que o Soberano o observa em todo tempo, e você não entende hoje, talvez... Não duvide, o amanhã mostrará”. Creiamos na Palavra de Deus!
              
NA TRINDADE,
Andrei Sampaio Soares.


1. Adeyemo, Tokunboh (ed. g.). Comentário bíblico africano. Tradução: vários tradutores. São Paulo: Mundo Cristão, 2010, p.92.
2. Wiersbe, Warren. Comentário bíblico expositivo: Antigo testamento: volume I. Trad.: Susana E. Klassen. Santo André, SP: Geográfica editora, 2006, 238. 
3. Cole, R. Alan. Êxodo: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova e Mundo Cristão, p.62 e 63.
4. ELWELL, Walter A. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. Tradução: Gordon Chown. São Paulo: Vida Nova, 2009, p.456.
5. The Word. Palavras analisadas em Êx 3.
6. ELWELL, Walter A. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. Tradução: Gordon Chown. São Paulo: Vida Nova, 2009, p.457.
7. Jr. Mendes, Genésio. Visão além do alcance: proposta cristã para um tempo ‘secularizante’. São Paulo: FUMAP, 2010, p.26.
8. ELWELL, Walter A. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. Tradução: Gordon Chown. São Paulo: Vida Nova, 2009, p.457.

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