PÁSCOA: CELEBRANDO A LIBERDADE! (parte 1)
A palavra portuguesa “páscoa”
é usada para referir-se a festas dos judeus, que no hebraico é chamada de
pesah, termo derivado do verbo pâsah, cujo significado é “passar por”[1]. A páscoa era a primeira e a
principal festa do calendário judaico. Foi estabelecida antes da lei, antes do
sacerdócio, antes do tabernáculo e antes de qualquer festa judaica. A Bíblia a
chama de a páscoa do Senhor (Ex 12:11, 27; Lv 23:5). Mas, o que é páscoa? Com
que objetivo esta festa era celebrada? Como ela era celebrada? A festa que se
comemora na atualidade, é a mesma que os judeus comemoravam? Se não é, como,
então, surgiram estes novos costumes? É por esse caminho que andaremos. Nosso
objetivo é apresentar e analisar o relato bíblico da instituição da páscoa, e apresentar
os costumes que foram adicionados a ela, ao longo do tempo. Vejamos.
1. A OUTRA PÁSCOA
Junto
com o natal, a páscoa é uma das festas “cristãs” mais celebradas em todo o
mundo. Todavia, qualquer pessoa que se dispor a estudar a Bíblia Sagrada,
notará que a festa da “páscoa”, celebrada atualmente, em nada se parece com a
páscoa dos judeus. É outra páscoa! A diferença começa no que se comemora em
cada uma delas. “No judaísmo a festa celebra e recorda a libertação do povo do
cativeiro do Egito (...). No Cristianismo, a festa transformou-se em celebração
da ressurreição de Jesus”.[2]
O
que ocasionou tal mudança? Quem instituiu esta “páscoa cristã”? Se ela devesse
mesmo ser comemorada, nos moldes atuais, porque não encontramos nenhuma menção
desta celebração registrada no livro de Atos dos Apóstolos, que narra os
primeiros trinta anos da igreja cristã primitiva. Não há nada registrado sobre
“Quaresma”, “Semana Santa”, “Quarta-feira de cinzas”, “Domingo de Ramos”,
“Sexta-feira santa”, “Sábado de Aleluia”, etc.? De onde, então, veio a observância
da páscoa nestes padrões?
Pois
bem, tudo começou, quando o cristianismo, que dava seus primeiros passos,
decidiu comemorar uma festa com características peculiares, afastando-se das
tradições judaicas. Daí, como uma tentativa de emancipar o cristianismo do
judaísmo, a páscoa cristã surgiu, no início do segundo século em Roma,[3] com uma cerimônia totalmente
distinta. Vale lembrar, como acertadamente faz o famoso Dicionário Vine, esta
celebração totalmente “nova”, dos tempos pós-apostólicos, “não foi instituída
por Cristo”;[4] nasceu da vontade dos
primeiros cristãos.
Como
eram estas celebrações? Originalmente, a páscoa cristã era uma única celebração
noturna, que relembrava tanto a morte como a ressurreição de Cristo. A
cerimônia incluía o acendimento da vela pascal, orações, leituras das
Escrituras e a celebração da ceia do Senhor.[5] Com o passar do tempo, entrou
para a liturgia destas cerimônias a realização do batismo; e isto, por sua vez,
acarretou a extensão do breve período de preparação, para os quarenta dias da
Quaresma. Sendo assim, a festa única foi dividida em várias partes. A partir do
ano 325 d.C., o Concílio de Nicéia, fixou uma data anual para esta celebração
(data que perdura até os dias atuais): o primeiro domingo, após a primeira lua
cheia que ocorrer após, ou no equinócio[6] da primavera.[7]
Mas,
e os “ovos de chocolate e os coelhos de páscoa”? De onde apareceram? Bem, ao
longo dos séculos, muitos costumes populares que refletiam o folclore pagão da
primavera,[8] foram anexados à celebração da páscoa cristã, entre eles, o
coelho e os ovos de páscoa. Existia uma festa pagã que celebrava a volta da
primavera. Nos antigos povos do Egito e da Pérsia, os amigos trocavam ovos
decorados nesta época. O ovo é um dos mais antigos símbolos da vida. Os “mitos
antigos referem-se aos ovos como a fonte de toda a vida biológica”.[9] Os povos da antiguidade o
consideram também, como um símbolo da fertilidade.
Os
cristãos ocidentais adotaram esta tradição e o ovo passou a ser um símbolo
religioso. Ele “veio a simbolizar a páscoa e a ressurreição, mais isso de
acordo com um pano de fundo muito mais pagão e germânico”.[10] E, por que eles são feitos de
chocolate? Bem, os ovos de chocolate, como conhecemos hoje, surgiram apenas no
século XX, e por uma motivo muito mais comercial, do que qualquer outro. O
chocolate não tem nada a ver com a simbologia da páscoa e nem com o folclore
pagão da primavera. Ele foi somente a matéria prima escolhida para ser usada,
por ser bem aceita pelo consumidor.
Quanto
ao coelho, ele também sempre foi um símbolo de fertilidade, assim como o ovo. A
razão é óbvia: ele se reproduz rápido e em grandes quantidades. “No Antigo
Egito, o coelho simbolizava o nascimento e a nova vida. Alguns povos da
Antigüidade consideravam o coelho como o símbolo da Lua, portanto, é possível
que ele tenha se tornado símbolo pascal devido ao fato de a Lua determinar a
data da Páscoa”.[11] E,
é óbvio; ele foi incorporado à festa da páscoa pela tradição e não pela Bíblia.
Em
suma, na celebração pascoal de hoje, a “Quaresma” representa o período de
preparação para a páscoa que começa com a quarta-feira de cinzas e vai até a
“Semana Santa”. A “Semana Santa” é a semana que antecede o Domingo de páscoa e
relembra a última semana de Jesus aqui na terra. Dentre os símbolos que foram
anexados a esta celebração, os ovos representam a ressurreição de Cristo e o
coelho a fertilidade. Lembramos uma vez mais, que nenhum destes costumes foram
instituídos pelas Escrituras. Entretanto, nem sempre foi assim...
Eleilton William de
Souza Freitas é Bacharel em
teologia pela Faculdade Teológica Batista de São Paulo; colaborador do DEC (Departamento de Educação
Cristã) da Igreja Adventista da Promessa (IAP); vice-diretor da Federação de
Uniões de Mocidade da IAP (FUMAP); serve a Deus na IAP de Vila Maria-SP; é
casado com Daiane e pai de Rafaela.
Citações
(as informações completas das referencias serão publicadas na parte 2 deste
artigo).
Publicado
originalmente na Revista “O Clarim”.
[1]
Coelho Filho (2000:83).
[2]
Cristofani (2008:750).
[3]
Idem, p. 751.
[4]
Vine; Unger; White Jr. (2009:854).
[5]
Elwell (2009:102).
[6]
Tempo do ano em que o Sol passa pelo equador fazendo com que os dias sejam
iguais às noites, o qual ocorre de 20 a 21 de Março (Equinócio da primavera) e
de 22 a 23 de Setembro (Equinócio de outono).
[7]
Cristofani (2008:752).
[8]
Elwell (2009:103).
[9]
Champlin (2001:650).
[10]
Ibidem.
[11]
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Coelhinho_da_P%C3%A1scoa > Acessado em
25/01/2010.
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