Ruminado as manifestações (parte 1).



Depois destas “mega-manifestações” em junho de 2013 no Brasil, muitas reflexões de vida pessoal e social tem me vindo à mente. Tenho sonhado com uma vida cristã mais progressista, o que sempre leva numa melhora social, já que, se vivermos os mandamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo o “contágio” ao nosso entorno é inevitável.
O grande desafio é posto para nossa juventude que foi às ruas, ou que de alguma forma se manifestou: agir de maneira oposta aos que governam com interesses mesquinhos, ser diferente de uma mídia manipuladora e lutar efetivamente pelo bem estar do próximo.
Diante do momento em que o jovem de certa forma tem sido protagonista de algo novo vivido em nosso país, me veio a lembrança uma análise profunda feita pelo escritor Henry Nouwen, que em seu livro “O sofrimento que cura” mostra o perfil de nossa geração e nos ajuda numa reflexão profunda de nossa juventude. Junto com suas análises realistas, proponho um olhar bíblico sobre como podemos reverter a imagem capitada de nossa geração por Nouwen. Veremos que é possível quando vivemos a integralidade da fé, ter esperança.  
         Na visão de Henry Nouwen[1], nossa geração é divida em três perfis: “geração interiorizada”, “geração órfã” e a “geração convulsiva”. Destaco aqui, a primeira delas a geração interiorizada
“É a geração que dá absoluta prioridade ao pessoal e que tende, de modo notável, a retirar-se no seu eu. Nenhuma autoridade, nenhuma instituição, nenhuma realidade externa concreta possui o poder de aliviá-los de sua ansiedade e de fazê-los livres. Por isso, o único caminho é o caminho interior. Se nada existe lá fora ou lá em cima, talvez exista algo significativo, algo sólido, lá dentro. Talvez algo profundo, no eu mais interior, ofereça a chave do mistério do pensamento, da liberdade e da unidade.”[2]
Tentando popularizar o que Nouwen quer dizer, cheguei a frases como: “cada um no seu quadrado; meu amigo é meu umbigo”. Ainda, achei no livro algo, onde ele nos faz ter um olhar surpreendente do aparente momento de protesto e unidade coletiva, mostrando ao mesmo tempo uma geração: 
“Isso pode surpreender aqueles que supõe que nossa juventude é altamente ativista, contestadora, portando faixas com protestos que trazem à cena discursões acadêmicas, promovendo ocupações, passeatas e invasões por todo o país e que pensa sobre si de muitos modos, mas não em termos de interioridade.”[3]
Não digo que não queremos lutar por interesses coletivos, mas pude perceber na variedade de lutas, de contestações, que não havia determinada unidade, e até uma voz representativa para os manifestantes, para se chegar às autoridades, mostrando que ainda pouco ouve a transformação necessária para que as reinvindicações justas, com mais força possam ser atendidas.
Para sairmos de nosso “eu” tão idolatrado, é preciso uma transformação “de dentro para fora”, cuja a Autoridade (Deus) é a única capaz de realizar, pelo seu Espírito.
O cristianismo propõe uma ordem de transformação: o primeiro momento é quando a pessoa humana encontra a Cristo, e se entrega a Ele, como o Salvador e Senhor da vida dela.  Precisamos urgentemente que as pessoas de nossa geração, que ainda não “nasceram de novo”, “nasçam de novo” como diz a Bíblia: Jesus respondeu: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. (João 3.5).
Num segundo momento, a pessoa que encontra a Jesus deve prosseguir nessa vida que recebeu de graça, mediante a crença no evangelho de Cristo. Isso é possível, embora difícil, porque contamos com uma parceira grandiosa. Deus coloca dentro do que recebe a Jesus, o Espírito Santo, que se torna “Inquilino” daquele que confia em Jesus, como Paulo confirmou em sua primeira carta, enviada aos cristãos de Corinto: Não sabeis que sois santuário de Deus e que o seu Espírito habita em vós? (1 Co 3.16). Precisamos que Jesus seja o Senhor, para sermos uma geração habitada pelo Espírito.
E em pessoas, que são “casa” do Espírito, certamente são pessoas guiadas pelo Espírito: Os que vivem segundo a carne pensam nas coisas da carne; mas os que vivem segundo o Espírito, nas coisas do Espírito (Romanos 8.5). Se formos submissos ao Espírito, viveremos uma vida que imita a vida de Jesus. Uma vida em que se deseja agradar a Deus, o Pai e procura se manifestar na dedicação ao próximo.
Só assim viveremos o ideal de Deus, que se interessa em que façamos justiça neste mundo, que ajudemos a amenizar o sofrimento humano, mas nos traz expectativas de um futuro muito mais relevante. Não nos deixa esquecer-se de uma mudança radical pela “instalação” plena do Reino de Deus, pois nós cristãos: ...confiados em sua Promessa, esperamos novos céus e nova terra onde habita justiça (2 Pedro 3:13 KJA).

Na Trindade,
Andrei C. S. Soares.



[1] Nouwen, Nouwen J. M. O sofrimento que cura. Tradução: Pedro Elyseu Schweitzer. 4ª ed. São Paulo: Paulinas, 2010.
[2] Idem, 48,49,50.
[3] Idem, 48.

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