Um breve ensaio sobre o Estado – numa perspectiva cristã e conservadora





Inúmeras perguntas têm sido feitas a respeito do papel do Estado na democracia ocidental. Resolvi pensar sobre o tema numa perspectiva bíblica e conservadora sem me utilizar do uso da filosofia nem da ciência política, apenas das Escrituras Sagradas e a Tradição Cristã enquanto ferramenta de consulta.
Falemos de Brasil. Em Junho ultimo, o Brasil viu sair às ruas uma fração da população que manifestava um coletivo sentimento de indignação. O nascedouro, segundo à mídia, se deu quando governantes anunciaram o reajuste das tarifas do transporte público. Nessa toada, os protestos eclodiram em diversas capitais e ganharam novos contornos. As ruas foram tomadas por cartazes contra a corrupção estatal, o mal uso das verbas públicas destinadas à serviços urgentes (como saúde e educação), ética na política etc. A revolta contra a ineficiência do Estado foi unânime.
Contudo, a Bíblia e o pensamento de tradição conservadora oferecem respostas conclusivas sobre o papel do Estado? A resposta é sim. Ei-los a seguir.
1. Estado e Individuo. Tendo como base o ensinamento paulino, o Estado se constitui como uma autoridade ordenada por Deus (Rm. 13). Cabe ao mesmo a função de ministrar a vontade soberana de Deus no cumprimento das leis e assim fazer a manutenção do bem estar de todos. As funções jurídicas no tocante à punição de criminosos  também são de sua responsabilidade (nesse aspecto é justificável a existência de uma polícia) bem como garantir ao máximo as liberdades individuais. Isso significa que o Estado não cumpre uma função de legislação repressora aos hábitos morais do cidadão comum.
2. Soberania do Estado. A tradição conservadora cristã é resistente à  soberania absoluta do Governo. Todo poder subsiste em Deus e é delegado por Ele. Todo o regime que se propõe a sobrepor-se sobre o individuo constitue-se em ditadura, não democracia. Não compete ao Estado a intromissão nos ditames mínimos e banais do cotidiano social. O indivíduo é livre às suas escolhas morais bem como suas consequências.
3. Igreja e Estado. O culto público é de responsabilidade da própria Igreja. Limita-se também o poder do Governo nesse aspecto. Cabe ao mesmo a defesa da liberdade religiosa e de não assumir nenhum ponto de vista teológico oficial – à evitar contraposições.
4. O Estado e a Economia.  A economia de mercado, a livre iniciativa e o estímulo empreendedor são a única alternativa à prosperidade. Alguns países deram sua devida importância à tais princípios e hoje são potências mundiais – EUA, Japão, Canadá. O Estado protecionista e interventor só dificulta à concorrência entre empresas e não apresenta soluções à inflação e ao problema do desemprego.
5. Corrupção. O debate sobre esse tema é milenar. Tratados de peso já foram elaborados ao longo dos séculos. Todavia, a Bíblia é mais do que clara em dizer que a corrupção é inerente à própria condição do humano caído (Rm. 3.23). Disse um sábio: “Onde há homem ali  há corrupção”. Inadequações do Estado serão sempre evidentes por se tratar de um órgão gerido por seres de natureza caída. É válida a luta contra práticas governamentais indevidas, porém a extinção dessas seria total utopia pueril.
Nota-se que a Bíblia dá ao Estado uma natureza limitada. Deus não quer que homens tomem a autoridade que à Ele pertence. Por essa razão, somente ele pode dispensar tal poder ao governo. O Estado não pode se colocar no lugar de Deus. Sua função é promover a segurança dos cidadãos; as liberdades individuais como direito pétreo; a defesa da vida como algo sagrado; a pluralidade religiosa e a liberdade de culto; a ética na administração da gestão pública; a promoção da economia de mercado; a intocabilidade dos valores tradicionais da família e propriedade; dar testemunho da verdade sob a jurisdição de Deus, que um dia voltará para acertar às contas.
E o Estado brasileiro? Tem se seguido tais nesses princípios? 

Ribamar Beltrão, colunista do Além Blog. 

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