O Gangster


Poucos filmes me chamam atenção. Sou alguém de um gosto bastante seletivo para cinema. Não me considero um cinéfilo nato porque não assisto de tudo. Não me vejo pagando uma fortuna pra assistir zumbis, vampiros, bruxas, super-heróis e outras “tendências” do momento cinematográfico. Sempre apreciei uma película que me ensine algo ético, espiritual ou que possua uma envergadura histórica para além de tentativas exaustivas de me transportar para ambientes utópicos inalcançáveis.
Um desses filmes que me ‘fazem o meu gosto’ é  “O Gangster” (2007).
A trama, que conta com Denzel Washington e Russell Crowe como principais, remonta à Nova Yorque anos 70, em plena Guerra do Vietnã, e conta a história de um dos maiores mafiosos da história dos Estados Unidos: Frank Lucas.
Negro e de origem pobre, Frank Lucas (Washington) passa a vida sendo preparado para a sucessão na escala da máfia nova-iorquina. Assim que assume tal posto, descobre uma maneira inovadora de abastecer a cidade com um tipo de cocaína importada Sudeste Asiático (mediante contatos de soldados corruptos que guerreavam no Vietnã) e esse ato o fez lucrar mais de 250 milhões de dólares. O chefão torna-se amigo de celebridades, passa a freqüentar os círculos sociais mais altos e muda a vida de toda a sua família à curto prazo.
Aos poucos, a cidade estava de joelhos à Lucas. Nem a polícia o detinha, afinal, seu dinheiro também conseguiu comprá-la.
Contudo, ele não contava com a honestidade que ainda restava no policial Richie Roberts (Crowe). Ironizado por seus colegas depois que devolveu US$ 1 miilhão, encontrado no porta-malas de um carro, ele se credencia para chefiar uma força de elite encarregada justamente de desmontar as grandes redes do tráfico.
Ele reúne uma equipe nada convencional, tanto na aparência, como nas técnicas de investigação, e procura chegar à ponta da distribuição da heroína - que está causando mais mortes do que nunca, tanto pelo consumo como pelas disputas para controlar sua venda.
Antes de dizer que os dois personagens irão se encontrar, cabe onde quero chegar. Há nesse filme a exposição de uma profunda ferida ética da sociedade americana e que se torna para nós, cristãos, parte de algo que vivemos cotidianamente: o conflito espiritual interior.
O diretor inglês Ridley Scott retrata Lucas como alguém que compensa sua consciência do império construído por suas ações criminosas com uma conduta pessoal diametralmente oposta. Lucas, apesar de criminoso é um conservador. Um cristão, monogâmico, homem que valoriza a família, e vai todos os domingos com sua mãe à Igreja. Por outro lado, Richie é um policial fiel à profissão a as leis, de moral profissional ilibada, mas com imensos arroubos pessoais – como constantes bebedeiras e traições à esposa.
A grandeza do tema está na dificuldade encontrada em conciliar ética profissional e respeito às leis à uma moralidade cristã e temente à Deus – algo que o apóstolo Paulo chamou de viver sob “temor e tremor”. Quantas vezes nos deparamos com pessoas que possuem um discurso sobre a vida estruturalmente idealizado, mas na prática não o fazem valer? Pessoas que são como o filósofo Jean-Jaques Rousseau, que escreveu um tratado sobre educação de crianças, mas entregou todos os seus filhos à orfanatos – episódio que levou o filósofo britânico Edmund Burke (1729-1797) à dizer que pessoas assim “amam a humanidade, mas detestam seus semelhantes”.
Essa é a grande sacada de Scott.
No final, Richie consegue desmantelar os cartéis de Lucas e levá-lo à cadeia. O ápice se dá quando o próprio mafioso ajuda o policial no término da investigação – abalando toda a estrutura do comércio de drogas em NY. Mesmo que à força, as virtudes de ambos se completaram e se ajudaram afim extirpar um mal que consumia vidas naquela sociedade.
Para além da produção impecável, um filme de enormes proporções éticas e que levanta  reflexões tremendamente espirituais: Moral e ética são relevantes à fé cristã? Até que ponto estamos dispostos à equilibrarmos discurso e prática harmoniosamente? Nossas vícios nãos estão sendo compensados com pretensas falsas virtudes? O que Deus requer de mim face à esse conflito?

Recomendo que assista, ore e peça à Deus as respostas.

Ribamar Beltrão | 27/11/2013.


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