Era um dia de muita chuva. Agora entretanto, o céu se ocupava com as nuvens negras daquela tempestade algoz. Sim, pois aqueles trovões se misturavam com a correria daquele hospital de muita gente internada, muitos homens correndo para acudir, muitos outros gemendo em busca de socorro. Entre sons de sirenes e barulho de muitos passos, um homem entrou pelas portas do saguão principal, as portas que davam acesso aos corredores foram rompidas com certa violência; a ambulância havia revelado o desespero de alguém em grandes apuros, não havia muito o que se fazer. Equipamentos e máquinas conectados ao corpo do “meio morto”. Homens de branco por todos os cantos do corredor em um túnel de corrida de macas, acompanhavam aquilo que mais se parecia com uma marcha fúnebre, se não fosse lógico, pela pressa daquela gente. No término da subida daquelas infinitas rampas, dava para ver a última lâmpada no final do corredor do andar superior e uma porta, bem mais estreita do que as outras ao longo do caminho, era de fato a última tentativa. O “quase moribundo” estava sozinho, não deu tempo de fazer algum reconhecimento, pois na pressa que imputou aquela doença terminal, não houve espaço para procurar mais ninguém, pelo menos por enquanto. Seu rosto trazia sinais de muito sofrimento, parecia ter sido um homem muito bonito um dia, talvez bem sucedido na vida, homem de destaque por aí, quem sabe; entretanto se alguma coisa de bom havia existido não era possível perceber isso agora por entre aqueles olhos arregalados, boca seca, cabelos negros bagunçados e garganta espichada.
O homem da porta estreita no final do corredor estava vestido de um jaleco comprido e mais alvo. Veio receber a comitiva de médicos e enfermeiros. Ele tinha um olhar sereno como se a situação não merecesse tanto desespero. Recomendou que deixasse o “quase morto” em suas mãos, não havia o que temer, o leito da U.T.I já havia sido preparado. O homem da porta estreita conduziu o doente para o leito previamente arrumado, começou seu processo de recuperação, como se realmente soubesse que aquilo passaria em breve. Os medicamentos começaram a ser ministrados, os enfermeiros lhe auxiliaram com os desfibriladores, o coração quase parando... O Barulho de suspiro de um dos enfermeiros revelou: a situação se estabilizara.
Após viver uma “quase vida”, “Sofrimentos-realizáveis” que parecem nos fazer feliz, fatalmente padecemos de uma doença terminal, um câncer impossível de vencer: A satisfação de nossos interesses pessoais, o pleno “endeusamento” e realização do Ego. Finalmente, um dia, chegamos ao Homem da porta estreita, no final daquele corredor que chamamos de “quase vida”.
Ouvi em uma leitura Bill Beckham dizer que o cristão verdadeiro experimenta três tipos de mortes espirituais: Na hora da Salvação: Reconheço que estou em Cristo, morro para mim mesmo; “Pois vocês morreram, e agora a sua vida está escondida com Cristo em Deus” (Cl.3.3). Durante a Salvação: Reconheço que Cristo está em mim, morro diariamente para minha condição pecaminosa na carne; “Assim, façam morrer tudo o que pertence à natureza terrena de vocês: imoralidade sexual, impureza, paixão, desejos maus e a ganância, que é idolatria.” (Cl.3:5). Na comunidade: Vivencio Cristo no meio do seu Corpo, morro para o meu individualismo; “Que a paz de Cristo seja o juiz em seus corações, visto que vocês foram chamados a viver em paz, como membros de um só corpo.” (Cl. 3.15)
Olhando para essa grande oportunidade, convido você para escrever as “Crônicas” da sua Vida; não falo mais numa vida do tipo quando você nasce e começa a respirar (Bios), mas Vida do tipo: você encontrou o verdadeiro sentido, O Homem da porta estreita no final do corredor, a realização em viver para Cristo e para os outros (Zoe). Vamos aprender em oração, o que significa deixar o nosso ego em tratamento nas mãos do Mestre, pedir-lhe que faça as motivações dele funcionar em nosso corpo, em nossa mente, em nosso coração. Seja assim amigo, hoje e Sempre, Amém.
No Eterno,
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