Discípulo Radical: Somos equilibristas

Depois de passarmos por muitas características de um discípulo, chegou a vez de falarmos sobre uma outra característica, a de equilibrista.



Entendemos que somos casa, e que com isso, devemos ser o que Cristo quer de nós não somente na igreja, mas em todo lugar, afinal, o Santo Espírito mora em nós. Sabemos também que, devido a isso, não devemos mostrar - se de fato somos discípulos - o nosso ego, mas sim refletir Cristo para todos. E para conseguirmos fazer isso, temos que ter atitudes maduras de um adulto, mas com a pureza e inocência de uma criança. E, se queremos de fato mostrar a Cristo, temos que ser como Ele em tudo, inclusive no serviço. No serviço de ajudar o próximo e todo o planeta, inclusive o restante da criação.



E agora vem a grande questão: como fazer tudo isso, ser um discípulo de fato, e ainda conseguir viver nesse mundo de forma tão natural?



O apóstolo Pedro nos ajuda a entender isso em sua primeira carta. Em 1 Pedro capítulo 2 Ele nos dá esta ajuda: "Livrem-se, pois, de toda maldade e de todo engano, hipocrisia, inveja e toda espécie de maledicência. Como crianças recém-nascidas, desejem de coração o leite espiritual puro, para que por meio dele cresçam para a salvação, agora que provaram que o Senhor é bom." 1 Pedro 2:1-3

Pedro aqui, descreve de forma bem clara como devemos agir.


Leite espiritual

Primeiro, ele diz que devemos ser como bebês, ansiosos pelo “leite espiritual”.


O Théo, meu filho demonstra isso de forma bem nítida. Toda manhã, quando ele acorda, nós o levamos para a nossa cama, eu levanto e faço o leite dele. Quando eu levanto ele já começa a choramingar, quando eu chego, ele já tá esperneando (sem aquele drama de grito e tals, só mexendo as pernas mesmo), ansioso pelo leite matinal. É mais ou menos isso que eu imagino quando Pedro fala de sermos como crianças ansiosas pelo "leite espiritual".



Você que é pai ou que já cuidou de alguma criança, já reparou como a dieta de um bebê é rígida? Mas é para o bem dele. Às vezes é necessário até ser mais rígido para que ele cresça ainda melhor. Novamente o Théo...rs. Depois que ele desmamou, começamos a dar leite em pó, mas ele começou a sangrar quando fazia coco. Ficamos preocupados e falamos com o pediatra. Ele disse que era normal isso acontecer na transição mas que, se persistisse, para irmos ao gastro-pediatra. Persistiu! Chegando lá, a doutora o avaliou e constatou que o problema dele era alergia a proteína do leite (não a lactose, que é açúcar). Tivemos que comprar pra ele um leite chamado Pregomin, que é zero proteína do leite da vaca. Depois de um tempo já tratando e sem sangrar, a médica disse para tentarmos dar um bolo com leite de vaca. Pra nossa tristeza, ele voltou a sangrar. Voltamos ao Pregomin. Um mês depois, nós fizemos outra tentativa, mas desta vez, misturando os leites na hora de dar o leite matinal pra ele. Começamos com 20ml do leite natural, depois 40, 60ml e hoje, ele graças a Deus está curado. Agora, tem algo que não contei: o Pregomin tem um sabor extremamente amargo, ruim, e mesmo assim, meu filho tomava aquilo como se o mundo dependesse deste leite!



Assim é com o crescimento espiritual. Precisamos ter este cuidado, precisamos criar a rotina de nos alimentarmos da palavra, mesmo que as vezes desça amarga, ela é pro nosso crescimento. Devemos a estudar de maneira correta, a estudando. A palavra neste trecho no original grego é logikus, que seria algo como “racional”. O que Pedro pede então, é que cresçamos na Palavra, para entendermos e aproveitarmos melhor seus ensinamentos.



"...vocês também estão sendo utilizados como pedras vivas na edificação de uma casa espiritual para serem sacerdócio santo, oferecendo sacrifícios espirituais aceitáveis a Deus, por meio de Jesus Cristo." (1 Pedro 2:5).


Neste trecho já temos 2 outras características: somos pedras vivas e sacerdotes.



Pedras vivas

Pedra viva aqui é uma comparação a pedra principal da construção da época. Hoje, na engenharia atual, isso seria como os alicerces, a fundação. Geralmente é chamada de viga baldrame e tudo é construído a partir dela.



Assim como Cristo foi esta pedra, ele também nos chama para ser assim, para que sejamos pedras vivas na construção da igreja, de uma comunidade de amor. Para que um ajude ao outro.



Sacerdotes

Com isso, chegamos a terceira metáfora de Pedro. Temos que ser sacerdotes também. Meio pesado, não? O sacerdote tinha como suas funções, fazer o sacrifício a Deus pelos pecados do povo e era o único que tinha livre acesso a Deus. Graças a Cristo, nós não precisamos mais de sacrifícios e todos temos livre acesso a Deus. Temos livre acesso porque nos tornamos casa. Mas e o sacrifício?



A meu ver, viver uma vida de adoração é o sacrifício. E uma vida de adoração a Deus é 360°: começa em você, sua família, seus próximos e quando você menos espera, já está partilhando e ajudando muitos que você nem conhecia.



Povo Santo

"...Vocês, porém, são geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo exclusivo de Deus, para anunciar as grandezas daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz." (1 Pedro 2:9)



Vemos agora Pedro dizendo que somos o povo santo, raça eleita por Deus. No momento que Cristo morre na Cruz e ressuscita por mim e por você, ele nos escolhe e aí passamos a fazer parte deste grupo. Grupo que não é fechado e nem discreto, muito pelo contrário, diferente dos maçons, o cristianismo tem que ser anunciado e falado a todo instante. Será que fazemos isso de fato?



No ano de 2018, o que não faltou foram discussões nas redes sociais, discussões sobre política. Sabe, queria ver a galera com a mesma força e vontade falando nas redes sociais sobre o seu Salvador!



Nosso comportamento deve ser diferente, devemos agir com amor, mesmo não concordando, afinal, o julgamento vem dos Céus, não de nós.

"...Amados, insisto em que, como estrangeiros e peregrinos no mundo, vocês se abstenham dos desejos carnais que guerreiam contra a alma. Vivam entre os pagãos de maneira exemplar para que, naquilo em que eles os acusam de praticarem o mal, observem as boas obras que vocês praticam e glorifiquem a Deus no dia da sua intervenção."  (1 Pedro 2:11,12)



E o estrangeirismo, muitas vezes nos dá a sensação que não devemos fazer nada por este planeta. Por isso mesmo Karl Marx diz em seu livro, que a religião é o “ópio do povo”, nos entorpecendo para aceitarmos o status quo, a situação atual. Mas a Bíblia, e Pedro aqui são bem claros. Pedro nos faz entender que somos de fato estrangeiros, mas no sentido a direitos, mas temos deveres com a Terra e sua população.



Somos servos

Com isso chegamos a última metáfora de Pedro. Somos servos!



"...Por causa do Senhor, sujeitem-se a toda autoridade constituída entre os homens; seja ao rei, como autoridade suprema, seja aos governantes, como por ele enviados para punir os que praticam o mal e honrar os que praticam o bem." (1 Pedro 2:13,14).



De forma bem antônima, Pedro logo depois já diz que somos estrangeiros, ou seja, um povo escolhido, fala que somos um povo sem terra, sem domínios neste mundo. E o direito do servo é servir. Ou seja, o estrangeiro agora, não tem mais desculpas para ajudar a melhorar esta vida atual.



Cristo, por toda sua trajetória na Terra, mostrou que ser servo é o melhor modo de ensinar a ser um cristão.



Desde a lavar os pés dos discípulos, colocar a orelha do soldado de volta na cabeça depois de Pedro o cortar, até a exortar o povo com relação a seus pecados e estilos de vida, desde a mulher que quase foi apedrejada, até a samaritana. De Judas ao ladrão da Cruz, Cristo sempre foi amor, e ao mesmo tempo, justo, caminhando conforme a palavra, sem alterar uma vírgula da Bíblia.



Resumindo, Pedro diz:

·         Como crianças, recém-nascidas, somos chamados à comunhão;

·         Como sacerdotes santos, somos chamados à adoração;

·         Como povo de propriedade de Deus, somos chamados ao testemunho;

·         Como estrangeiros e peregrinos, somos chamados à santidade;

·         Como servos de Deus, somos chamados à cidadania.



É aí, quando entendemos cada metáfora, que entendemos o porque é necessário sermos equilibristas. Porque, como crianças, somos chamados ao discipulado individual, mas também a comunhão. Comunhão com Cristo e sua comunidade.


Somos chamados para a adoração e para o trabalho. Como sacerdotes, adoramos, e como povo de Deus, testemunhamos a sua palavra através do trabalho. E somos chamados tanto para a peregrinação, como a cidadania. Somos chamados para a missão local e global, uma missão GloCal...



Recentemente foi lançado um filme chamado "A Travessia". Este filme é sobre Philippe Petit e a coragem dele de atravessar através de um cabo de aço, as torres gêmeas. Philippe Petit disse, momentos antes da travessia: "Se eu morrer, que morte bonita. Perder a vida exercendo minha paixão".


Será que temos este pensamento com relação ao cristianismo? Será que nos arriscamos, como Petit, atravessando as torres gêmeas, sem proteção alguma, pela Palavra? Sabe, nem precisaríamos temer, pois a nossa proteção vem do Céu. Mas mesmo assim, muitas vezes não confiamos. Petit confiou em si e numa corda. Nós não podemos e nem precisamos confiar em nós, temos que confiar sim em Deus! Deus, aquela entidade que adoramos, que nos prostramos, que cantamos e dizemos que Ele pode tudo, e mesmo assim, muitas vezes, não confiamos.


E isso está intimamente ligado a saber quem de fato somos. Através do discipulado somos chamados a ser Casa e mais, filhos de Deus!


George V, avô da rainha Elizabeth II, dizia a seu filho: "meu querido menino, você deve se lembrar de quem é!". Ele dizia isso a Eduardo VIII. 


Eduardo VIII é conhecido pelo seu curto reinado. Ele abdicou a missão de ser rei por uma paixão. Uma paixão que ia contra as instruções da Cora Real inglesa à época. Sua esposa era divorciada, e gostava de orgias.



Ao abdicar, saiu dos holofotes, algo que ele não gostou. Com isso, se aliou aos nazistas para ajudar a derrotar a Inglaterra e ser o Rei da Ilha, a serviço de Hitler. Mas sua "engenhosa" tentativa de golpe foi descoberta e ele foi exilado de vez!

Após a rainha Elizabeth II subir o trono ele pediu perdão a sua sobrinha. Mas, logo depois quis acabar com a família real inglesa. Ele se rebelou. A rainha descobriu, o perdoou, mas não permitiu que ele morasse e nem pisasse nunca mais na Inglaterra. Como família, o perdoou, como chefe de estado, não permitiu que aquele vigarista continuasse ali.



E tudo isso porque ele esqueceu de quem era!



Pra sermos equilibristas e conseguirmos viver aqui na terra conforme a vontade de Deus, precisamos lembrar quem somos.



Somos equilibristas, somos casa, somos filhos de Deus!

Matheus Mendes. 

Comentários